domingo, 4 de outubro de 2009

A Birra






Recebi, hoje, uma mensagem de um bom amigo. Passaram 5 dias desde as legislativas e nem um post meu. Puxava-me as orelhas. Respondi. Agarrei as teclas do telemóvel e, atabalhoadamente, tentei justificar.

A verdade é que estou com a birra. Tenho para mim, no entanto, que não sou o único.

Estas legislativas foram marcadas por birras que culminaram no resultado eleitoral que se viu e que pode ter o apogeu na demissão do governo ou, pior, em 4 anos de um marcar passo angustiante de intermináveis negociações à esquerda e direita, com todos a reclamarem o protagonismo de reformas essenciais.

O presságio para os tempos mais próximos é sempre dado nos discursos dos líderes dos vários partidos, logo na noite eleitoral.

Dos últimos para o Primeiros

O PCP congratulou-se com o resultado. Ficou em ultimo mas valorizou a entrada de novos militantes, exortou a renovação de quadros e apoiantes. Não perder votos, num Partido há tantos anos vaticinado como lázaro, é motivo de festa. São sempre os mesmos votos, mas preciosos nesta batalha pela sobrevivência. Vai perpetuar a birra e a cassete. Nada de novo vai trazer a este novo ciclo.

O Bloco de Esquerda rejubilou. A estratégia do Grande Timoneiro foi cumprida. Retirar a maioria absoluta ao Governo em funções. Ainda encheu o peito de ar para dizer que ganharam os Professores. Confundir a ambição de vir a ser um partido de Governo com uma agenda afunilada a algumas classes profissionais irá resultar no esvaziamento rápido deste balão insuflado pela birra de alguns portugueses que teimam em ser mais beneficiados que outros.
Parece uma birra da velha direita…feita por um líder da extrema-esquerda, quiçá revoltado com a alta burguesia portuguesa…da qual faz parte. O crescimento do BE trará, proporcionalmente, o agigantar da sede de protagonismo. Sendo condição haver birras para colher protagonismo, o BE será o grande entrave da recuperação económica do Pais.

O CDS atingiu o Zénite. Cresceu de tal forma que está no limiar de ser um “grande”. O futuro lhe ditará o destino. É um “partido-empresário”. Apostou tudo de forma sustentada. Ou continua a crescer e singra, ou entra em insolvência. Mas tem mérito. Apresentou o seu programa, defendeu-o, esquivou-se às tentações das quezílias de campanha e abriu espaço à direita angustiada pela erosão do PSD. Seja qual for o sentimento que nutramos por Paulo Portas, temos de reconhecer que a sua birra é uma obstinação positiva pelo que defende e que a sua capacidade de entrega é avassaladora.

O PSD teve o mérito de marcar a percentagem exacta de eleitores fixos, ou seja, por pior que seja o programa ou o candidato, neste caso foi um cumulativo de ambos, saberemos sempre que 29% dos votos estão garantidos. Aqui apenas Ferreira Leite fez birra. Antevendo que o PSD não ganhava e que os companheiros com ambições ao cargo de PM se protegiam do calor da fogueira, protagonizou a birra da teimosia e imolou-se. Poucos vieram apagar o fogo e alguns, com retoques de sadismo, ainda lhe solicitam a presença em campanhas autárquicas votadas ao insucesso. Não chega já? Deixem lá a senhora em paz que ela serviu muito bem os companheiros de partido.

O PS perdeu as eleições. Sócrates é o único que não fez uma birra mas, presumo, prepara-se a fazer. Perder a maioria absoluta num Pais que precisa de reformas para recuperar a economia e os equilíbrios sociais é desastroso. Negociar com Louçã? No ocidente temos o habito de não negociar com terroristas. Acordar com Jerónimo? Não. Com o PCP seria adormecer com Jerónimo a passar a cassete do proletariado. Bloco Central? Desproporcional e fora de tempo. Com Portas? Pode mesmo ser a única solução. Pode parecer contranatura, mas a mescla entre o pendor social do Partido Socialista e o rigor das políticas sociais do CDS poderia dar um equilíbrio interessante. Ambos reformadores e ambos estrategas.

Não vai acontecer, certo é.
Mas o que não pode mesmo acontecer é ter um governo manietado, ao sabor dos minutos de prime-time que cada líder quer somar nos media, incapaz de implementar medidas nado-mortas pelos impasses negociais sucessivos onde, para além dos lideres, as corporações vão tentar inverter as reformar até secar completamente um pais que não produz riqueza.

E, será aqui que Sócrates poderá fazer uma Birra das grandes. E lá vamos nós todos direitinhos às urnas de voto.
O timing? Seria interessante coincidir com a escolha do novo Presidente da Republica.

Obrigado pelo puxão de orelhas Sr. Engenheiro!

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