quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 do 4 - Não me obriguem a viver para rua brindar


25 do 4

Não me obriguem a viver para rua brindar



Começo por desmitificar. Sou democrata, muito obrigado a todos os que lutaram pelo 25 de Abril e permitiram aos Portugueses viver neste regime em oposição a outro pior. Obrigado, também, aos que fingiram lutar, aos desertores, exilados e outros que vieram erguer a taça depois de estarem debaixo dos cobertores, nos dias quentes de Abril, á espera que a “fumaça” encontrasse o seu lugar para assentar. Sem dramas. Somos todos da tribo Portugal, e uma tribo é feita disto mesmo, pluralismo. A democracia, também. Não vale vir dizer que este se empenhou mais que aquele. È uma luta tão inútil como bafienta.

A vida das sociedades, inserida ou não num sistema democrático, é construída pelas posições políticas dos Homens. E por posição política entenda-se cada posição critica que, cada um, como individuo, toma. Nem que seja para escolher os cortinados lá de casa. Nesse sentido, um, diluído numa organização ou de forma solitária, traças as linhas que vincam a personalidade da sua geração.

A minha geração, que alguns de Abril, marcaram a ferro quente como “RASCA”, amarguram em teorias esotéricas para tentar justificar o afastamento e indiferença visíveis dos seus infantes perante a Abrilada.  

Mais Rascas são, os fedelhos. Concedo. Assim como concedo que o meu filho me diga que não pediu para nascer, eu também não pedi nenhum Abril, ou outro mês qualquer.

Podemos pedir o que quisermos mas, no final do dia, teremos aquilo que nos derem. E se nos deram a Democracia, não foram imunes em dar-nos a sede de protagonismo em comemorações repetitivas, enfadonhas, a preto e branco com personagens e personalidades em bicos de pés.

Pelo menos, uma vez por ano, porque os bicos dos pés provocam dor, tenta-se recuperar um dia de 1974, ser noticia e dizer. “Fui eu. Fui eu que te dei isto. Estás em divida eterna para comigo. E vou-te cobrar até que a falta de vida nos separe”

Quando nos elevamos, por mais nobre que seja o nosso feito, como é o caso, devemos puxar dos galões da humildade, envolver todas as gerações num abraço fraterno, arrumando o revivalismo numa gaveta da Historia. Veja-se o 4 de Julho nos Estados Unidos e a forma como todas as gerações são abraçadas.

Não me obriguem, então, a vir para a rua fingir o que não vivi. Estava na barriga da minha mãe. Não me obriguem a vir para rua brindar, convidem-me como igual e, nesse dia, serei um verdadeiro filho de Abril, sem dívidas morais.  Porque, isso sim, é a Liberdade.