quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Puta que Pariu a Crise


Som de Sonar quando me preparava para rapar mais frio escravizado pelo habito do fumo. Não fumo em casa. Desde que nasceu o meu filho. Regra de ouro. Som de Sonar, telemóvel com toque armado ao pingarelho. Um amigo do outro lado. Esqueci, por momentos, os cigarros.


Carlos, meu bom amigo, como está? Estou bem. Decidi ligar-te para te desejar Feliz Ano Novo. É que amanhã é a confusão. Não se consegue ligar para ninguém, pelo menos ter uma conversa de jeito. Tens razão – anui, com um sorriso interior de alegria provocado pelo pequeno-grande gesto. Amigos são sempre poucos, amigos que mostram afectos são mais raros ainda.

Continuámos. Filhos, família, está tudo bem, ainda bem, um grande abraço, fiquei muito feliz de te teres lembrado de ligar. Mesmo com os melhores amigos não conseguimos deixar de estar formatados para aquilo que é suposto dizer, quem devemos saudar e como o devemos fazer.

Cumprido o protocolo, sou abanado por uma pergunta fabulosa. Como foi para ti 2010?

Não me estava a perguntar pela crise, não me puxava ao fado português nem me instigava para a lamúria e miséria dos costumeiros queixumes. Era uma pergunta de um amigo genuíno, inteligente e verdadeiramente interessado no meu bem-estar ao invés daqueles que nos procuram as misérias para se confortarem das suas próprias.

Respondi. Foi um ano de provação. Provação? Como assim? Olha, Carlos, foi um ano em que fui posto á prova como se estivesse num centro de alto rendimento, um ano em que errei muito, mas principalmente um ano em que, mesmo errante, procurei nunca perder o fito daquilo que é verdadeiramente importante.

E, para além da família, o que foi realmente importante, Pedro? Usar os erros em beneficio da minha aprendizagem e crescimento pessoal. As crises, sejam elas de que natureza forem, servem sempre para aprendermos a nos conhecer melhor e a ver os outros da forma como realmente são.

Na abundância nem usamos peneira. Todas as pedras nos parecem preciosas. Na escassez afagamos a nossa peneira como se a nossa vida dependesse dela ( e depende). Guardamo-la com cuidado e sem a perder, porque finalmente somos forçados a ver que existiam pedras com um brilho cativante mas que nem por isso eram preciosas.

Bem, meu amigo, desculpa a filosofia barata! Não tens nada que te desculpar. Porque achas que continuo a ligar para ti?

Um abraço Carlos. Um abraço Pedro.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Só te Faltam as Orelhas

A minha cunhada deu uma rena de peluche ao meu filho. Olhei para a criatura. A de peluche, claro. Perguntei com ânsia de pai que ouve os rascunhos das primeiras frases de um filho. “Olha o que a tia te deu! O que é?”. Olhos grandes e brilhantes, respondeu. “Usso, Papá!” Um Urso. Curioso. Supostamente era uma Rena. Voltei a olhar. Parecia um cão.


Nada como tirar isto a limpo. Leio a etiqueta para determinar a espécie.

O meu filho já brincava com outro boneco qualquer. Está na idade que eu apadrinho como a idade dos 15 segundos. Máximo de tempo de atenção para cada coisa diferente (ou mesmo para estar parado!).

Made in China. Esta parte assume-se logo. Um destes dias vai deixar de aparecer a referência ao Pais de Fabrico. Sendo sempre o mesmo para quê gastar tinta. E aqui começa a análise. Versatilidade, engenho e produção.
Para memória presente e futura. Não quero ser Chinês, não sou Apóstolo do Capitalismo Selvagem e estou muito bem no meu Pais e a minha cultura é a minha casa. Estes factos, no entanto, não me castram a admiração pela arte e engenho.
Olhei a criatura com atenção. Vários ângulos e sobrolhos depois, continuava em águas turvas. O bicho, de facto, era parecido com uma Rena, um Urso e um Cão. Só as orelhas lhe davam o legado do bicho Rena.
E aqui estava a arte e engenho. Fabricado na China, numa fúria exportadora que permite a este pais um crescimento da economia a 13% (!) ao ano, não existem cá veleidades perfeccionistas e alterações de linhas de montagem só porque uns querem uma Rena na Noruega, outros um Urso no Canada ou um Cão na Alemanha. Nós cá compramos qualquer tralha, por isso não conta. O que conta é que existe alguém com arte e engenho de fabricar o mesmo boneco e que, trocando apenas as orelhas na parte final da linha de montagem, triplica a produção.

Prevalecerá a produção massiva ou a produção personalizada? Penso que a segunda. Ou melhor, como Português defenderei acerrimamente a segunda. Mas teremos de usar as mesmas armas. Arte e engenho.

Na minha terra diz-se “ Para parvo só lhe faltam as orelhas”. Nunca percebi muito bem esta frase. Mas entendo perfeitamente o estado de parvoíce a que seremos votados (e já vamos sendo) de ver o mundo passar enquanto a nossa Arte e Engenho continua conservada em teias de aranha no baú do Velho do Restelo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

SOMOS ISSO E MUITO MAIS...PÁ!


Começaram por ser vozes dispersas como pequenas acendalhas, abafadas e espezinhadas por uma multidão de optimismo. Há uns anos, aqui e ali, surgiam saudosistas a evocar Salazar. A multidão, essa, marchava impávida e desatenta rumo a uma terra prometida de sonhos e ilusões. Liberdade, Igualdade e Fraternidade diriam os Franceses. Carros, Casas e férias nas Caraíbas pensaram os Portugueses. Salazar? O povo é sereno, era apenas fumaça.

Hoje, de ouvidos preocupados, percebo que existe, de facto, não só fumaça, mas um foco de um qualquer fogo que pode estar para vir. Sou envolvido num negrume maior quando absorvo a transversalidade desta evocação. Portugueses de todas as classes, idades, ideologias, crenças ou em total descrença e aparente alienação vão-se multiplicando em apelos a um ente que “ponha mão de ferro nisto”. “Só lá vamos à cachaporra”, “ O Salazar é que devia cá estar” são frases vociferadas, meio a sério, meio a brincar, por cada vez mais portugueses. Preocupa-me a parte do meio a sério.



Acredito, no entanto, com excepção dos crónicos, que essa evocação é apenas um grito de desespero e que ninguém, tenha ou não vivido a 2ª República, anseie pelo regresso do presidente do conselho. Acredito, na mesma proporção, que o grito de revolta é genuíno e pasmo a minha própria alma na cedência virginal que concedo a Alberto João Jardim pela sua homilia à 4ª Republica. Não é que alguma coisa tenha de mudar, é que tudo tem mesmo que mudar.



Amanhã, dia 24 de Novembro de 2010, uma greve geral irá paralisar o Pais. A sua utilidade rima com nulidade. Sou acérrimo defensor do direito à greve mas já estamos paralisados há anos a mais. Percebo, com mágoa, que esta greve nada vai acrescentar e nada vai produzir para além da promoção das mesmas serôdias figuras que encabeçam os principais sindicatos e os mesmos actores dos diferentes partidos num reinado, alguns, quase tão prolongado cronologicamente como o do presidente do conselho. Até na forma e conteúdo deste tipo de greves estamos 20 anos atrasados.



Freitas do Amaral escreveu, sabiamente como é seu uso costume, sobre as 5 crises que atingem o País e o mundo.



Ted Sorensen, falecido no passado dia 31 de Outubro, mentor e executor dos discursos de J.F. Kennedy, escreveu para a tomada de posse do presidente dos EUA, fará 50 anos em Janeiro de 1961, o apelo “Não perguntem o que o País pode fazer por vós, perguntem o que podem vocês fazer pelo País”.



As crises têm a virtuosidade de serem um crivo onde, inevitavelmente, o joio cairá desamparado. O trigo, esse, germinará com mais força que nunca. E os Portugueses são trigo, e trigo da melhor selecção mas que tem sido esmagado por um joio secular. È tempo de darmos valor a nós próprios, de encher o peito de orgulho nas suadas de um pai que entrega o pão do dia a seu filho, de uma mãe que quebrou as barreiras do Patriarcado Social com a conquista do seu sonho profissional realizado, de um irmão que leva o nosso mais precioso produto exportável, a inteligência, a todos os cantos do mundo.

 
È o tempo de acreditar que somos muito melhores do que aquilo que alguns, por não o serem, nos têm feito acreditar. A essa acção já se chamou propaganda.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Crónica de uma Caderneta

Meus desconhecidos amigos. Estranha frase de abertura. Desconhecidos porque nunca vos tinha visto mais gordos (por acaso o Markl é bem mais elegante do que eu imaginava e o Palmeirim bem mais alto que a mítica imagem que explicitamente criaram na minha mente. Sacanas!). Amigos, porque a “Caderneta de Cromos” nos transporta para um delicioso lugar-comum da nossa pré-existência.

Tenhamos crescido em Alpiarça ou em Benfica, hoje, com a “Caderneta de Cromos” sentimos o conforto de nunca termos estado sozinhos nesse calvário da adolescência. Pena ser apenas hoje porque as galhetas nas fuças já ninguém nos tira. Não tem mal. A dramatização do Markl a apanhar tabefes e a fazer o transporte dessas experiências para algo de sucesso fez-me, também, sentir um John Rambo a atafulhar de pólvora um buraco na barriga, acender um fósforo e, depois de um esgar de dor, estar pronto para voltar….para o pátio de escola. Cria-se, através do humor (a mais inteligente e sensível das Artes), a marca indelével de uma geração.

Não vos deve ser alheio o desejo, tal foi a peregrina atitude de levar um programa de Rádio a um Coliseu pelas costuras, de perceber o que os sobreviventes da plateia, lugares de visibilidade reduzida e Piolho, sentiram e pensaram. Não estarei com subserviências do elogio cliché. Vocês sabem bem que correu muito bem.

Dar-vos-ei o espectáculo segundo o figurante.

Quatro “Rock-Stars” que se sentaram numa mesa para falar com os amigos. Sem pretensiosismo, despiram-se da rigidez das regras do showbiz e vestiram a pele dos figurantes. Sentamo-nos, então, todos à mesma mesa. Primeiro impacto. Já todos à mesma mesa fomos partilhando infâncias, memórias, imaginários com mais e menos intensidade. Porque se em Lisboa havia muitos “Playmobis” na província lavravam-se árvores de Grampos (que os nossos pais traziam do trabalho para encetar essa arte hoje conhecida como bricolage – nome francês tão amaricado como tantos outros, com a honrosa excepção do menage-â-trois).

Segunda vaga. Os mitos vivos. Júlio Isidro, a quem também atribuo essa espantosa metamorfose de ter passado de um homem a preto e branco a um ser de estroboscópio a cores, que nunca tinha visto ao vivo, iluminou a sala. Curiosa sensação esotérica de sentir uma aura tão potente de energia positiva à volta de uma só pessoa. As vénias que, especialmente o Pedro Ribeiro, lhe fizeram, passaram rapidamente de um suposto acto teatral a essência real de quem, acto reflexo, faz o que lhe vai na alma. Por falar em Pedro Ribeiro, e como eu o compreendo, acho que não vamos poder fazer isso ao Jesus este ano.

José Cid. Incontornável conterrâneo Ribatejano, trouxe-me a magia que sentimos quando, ao crescermos, passamos a admirar o Génio de alguém que julgávamos, na nossa “parvalescência”, obtuso e pouco “Cool”. Quem lhe conhece as virtudes sabe que, comparado com ele, pouco “Cool” é a arca Frigorifica.

Cai o Pano ou outra coisa.

Os gelados Fizz, grátis como quando roubávamos o Sr. Alfredo da Mercearia, foram um dos momentos. Certo que prejudicaram os merecidos aplausos ao Cid (excepto para quem pôs aquilo tudo na boca e ficou com a língua roxa). È que nós, os figurantes, queríamos aplaudir o artista entusiasticamente e acabámos distraídos a pedir desculpa pelos pedaços de Fizz que, com as palmas, estavam a aterrar nas pestanas dos vizinhos. È que nem todos os figurantes eram da turma dos cromos e ainda se ameaçaram uns tabefes à moda antiga.

Passado isso, saímos a sorrir com o pau na boca (cuidar esta passagem que é Mariana e imaculada) e com o calor de saber que pertencemos a uma grande e feliz família amish.

Estão reunidas, por mais macabro que pareça, as condições para criar um Partido Politico para governar o País

Em síntese, seja no Chucky Egg ou na Trampa de Pais dos nossos dias, vencem sempre os Cromos. A diferença é que uns são bons cromos e outros nem por isso.



A sério, a sério, parabéns, bem-haja e muito obrigado.

sábado, 6 de novembro de 2010

Pensa, Estupido

Estou a pensar que preciso deixar de pensar tanto. o excesso de pensamento ou nos torna genios ou estupidos. No meu caso o resultado e obvio.


Autor conhecido de mim, eu.




terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cavadores ao Poder



Entre os políticos e as outras pessoas sempre houve uma fenda separatista. A política sempre teve o seu cordão umbilical ligado a um elitismo de castas sociais.


Iremos por partes. Para alguém menos atento, a política não partilhou o berçário da democracia. Foi, antes, vê-la nascer como um dono que ajuda a parir mais um burro de carga onde se irá montar depois de tantos outros burros mortos de cansaço. Tinham morrido ou prestes a serem abatidos, entre tantos outros, os sistemas imperiais, os eclesiásticos, os monárquicos e os ditatoriais. Mortos uns, nados outros. Tão simples como a vida em si.

Mas a política é tão eterna quanto a existência humana porque com ela partilha uma essência que é transversal a ambos, o poder. E o poder, afrodisíaco ancestral, atrai homens e mulheres que, ao se entregarem às regras do jogo do momento, se tornam políticos. E tem sido a preservação deste “bem”, o poder bem entendido, o causador de guerras, disputas, causas fracturantes, doutrinas, revoluções e convulsões.

As intestinas disputas pelo poder tiveram, no entanto, um factor comum. Os que tiveram acesso a esse poder e os outros. De facto, não luta pelo poder ou o detém quem quer, mas quem pode (a própria palavra dá corpo ao argumento). E quem sempre pôde foi quem sempre teve acesso ao conhecimento e à informação antes dos demais.

Foi assim com Reis (veja-se como a informação antecipada nos favoreceu no Tratado de Tordesilhas), com os Eclesiásticos que criaram o Confessionário para terem informação privilegiada e controlarem as comunidades até aos dias de Salazar que criou a PIDE que, muito mais que reprimir, tinha como missão recolher informação.

Emprenhou-se a mente humana de dogmas e doutrinas a iluminar a justiça social e a revestir a igualdade entre todos de uma aura inigualável na Historia do Homem e deu-se à luz a Democracia. Mas a natureza humana é incontornável. Cedo se definiram esquemas para que o efeito fosse o inverso. Como impedir, então, que o Homem comum tivesse acesso ao Poder e às elites e vice-versa?

Lembro-me do meu avô me contar que os Mestres de profissões trabalhavam de costas para os aprendizes para que estes não aprendessem. Curiosa relação. Mas não estranha. Quando mais cedo tivessem aquela informação, aquele saber da profissão, mais cedo os Mestres correriam o perigo de deixarem de ser…Mestres.

Na política fez-se e faz-se o mesmo. Separa-se o povo inculto dos brilhantes académicos criando uma fenda separatista que tem implícita a segregação entre capazes e incapazes. Entre os dirigentes e os outros.

Hoje, no entanto, o acesso à informação é brutal e o contágio de uma simples mensagem no Facebook pode correr mundo e inverter, em meia dúzia de horas, um dogma ou uma corrente de pensamento. Vão caindo mitos e as causas sociais que criaram as esquerdas e as direitas só já têm sentido no cofre-forte dos Partidos Políticos Tradicionais.

Os Partidos através dos seus dirigentes, sem sustentação nas causas do passado, lidam com uma realidade diferente e terão, a bem da sua própria sobrevivência de se reinventar. Já não servem apenas os títulos académicos, os berços familiares e os berços comprados.

A proliferação de movimentos, lista de independentes, grupos de pensadores e até o agonizante sinal de uma abstenção galopante já deveriam ter sido sinais de alarme de sobra para uma convergência com a sociedade actual.

Porque, em resumo, de nada serve um general sem tropas e os líderes do futuro (amanhã já será tarde) serão aqueles que se mostrem capazes de um senso social e de aproximação emocional com a comunidade, que a compreendam genuinamente para que a sintam. Só assim terão as competências para a representar, independentemente de serem doutores ou cavadores.

A estes homens será, não dado como até hoje, mas reconhecido o poder.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"Reflecte profundamente sobre aquilo que perdeste...mas não penses muito nisso."

Autor conhecido, eu.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Sexo do Fado Português

Incontáveis são as vezes que amaldiçoamos o nosso fado. Não o Fado cantado em jarros de vinhos e em cama de chouriça assada, antes aquele fado que abraçamos como marca indelével da fatalidade do nosso destino como povo e como nação.


Temos, à mesa, ou à falta dela para fazer a vontade à metáfora, outra crise económica para partilhar. E o fado gingão que brinda a partilha em copo cheio, enegrece num fado triste quando o vinho escasseia e da chouriça só o pão molhado.

Partilhar as facilidades e as dificuldades é uma arte, louvem-se os casais com mais de 7 anos de casamento. Em termos de Nação, essa é ainda arte maior. Nunca o soubemos fazer. Ainda mais tristes e cabisbaixos que o nível da normalidade Lusa, recorremos, primeiro, ao fatalismo para nosso bode de estimação. Depois vêm os políticos, depois os sanguinários patrões, os malandros dos funcionários públicos, os desempregados crónicos e, se a coisa se tornar mais grave, os inúteis dos velhos que nunca mais morrem para não estarem a comer à conta.

Passado o choque inicial vem o conforto da salvação. Afinal existe um pai que nos irá salvar. O “Pai-Estado”. Providente, misericordioso e complacente, o “Pai-Estado” ir-nos-á devolver o que por direito é nosso. Tem sido assim desde a fundação da Nação.

O “Pai-Estado”, no entanto, para socorrer os seus desafortunados filhos, tem tido sempre um Pé-de-Meia. Começou por uns bons casamentos e dotes na corte europeia, trabalhou no Brasil, África e Ásia e vendeu Volfrâmio a um amigo Alemão enquanto abraçava um amigo Americano. Recentemente, foi admitido como sócio no Clube Europeu. È certo que a mesada do Clube foi muito boa e distribuída por alguns filhos, no entanto, e para isso, teve de vender a Agricultura ao amigo Francês e as Pescas ao amigo Espanhol.

Vendidos os anéis, ficaram os dedos. Dedos que serviram, por estar o “Pai-Estado” sem emprego há muitos anos, para pedir dinheiro emprestado aos amigos. Como quem vai ficando a dever na mercearia. A isto chama-se divida externa.

Como não se pode endividar mais, o “Pai-Estado” tem de cortar na mesada dos filhos. A isto chama-se redução da despesa.

E, como se não bastasse, o “Pai-Estado” tem de voltar a arranjar um emprego, vender mais algumas propriedades e pôr alguns dos filhos mais mandriões a trabalhar. A isto chama-se criação de receita.

Com mais receita e menos despesa o “Pai-Estado” pode pagar a sua divida externa.

Subsistirá, no entanto, o problema mais grave de todos e que está a pôr em perigo esta nossa família a que chamamos Portugal. O “Pai-Estado” tem de se sentar com os seus filhos para lhes dizer que já são uns Homens e que chegou a hora de irem com ele trabalhar. De preferência em algo que se possa vender aos amigos do mundo.

Só assim se garantirá, depois de equilibrar a receita e despesa para pagar a divida externa, garantir o futuro….com a criação de riqueza.

Caso contrário, a vida desta família não será apenas triste fado. Será um fado cantado de um País que foi….sexualmente tramado.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Homem Português, Homem de Palavra....Palavra?

Sou grande admirador dos Homens de palavra. Daqueles, raros, que fazem promessas e que, precisão Suíça, cumprem com rigor e perfeição.




Gilberto Madaíl é um desses homens. Prometeu, depois do Mundial, que muita coisa iria mudar na Selecção Nacional. E mudou. Foi a primeira vez que empatámos em casa com o Chipre e a primeira vez que perdemos com a Noruega.

Não vale reclamar. O homem, afinal, não disse o que iria mudar!

È este jogo de cintura, tão enraizado na nossa genética, que nos faz únicos no mundo. Não o suficiente para sermos campeões desse mundo e, quem sabe, nem sequer para nos apurarmos para o próximo Europeu. Perfeito, no entanto, para selarmos uma qualidade social, como quem determina a qualidade de um vinho pela sua região, qualidade essa que teima em premiar, medalhar e endeusar os menos capazes na sua profissão….mas mestre na arte da dissimulação.

Esqueçamos as Pescas, a Agricultura e o Turismo. Governantes, o segredo está em apurar e refinar esta qualidade, torná-la uma Denominação de Origem Controlada, oficializar o seu desenvolvimento académico nas Faculdades e exportá-la para Países do Primeiro Mundo e do Terceiro.

Os do denominado Primeiro Mundo estão petrificados pela ética e por um ignóbil ataque à corrupção. A Corrupção, nestes países, corre o risco de descer para níveis tão baixos que serão postos em causa os pilares de qualquer economia que ambicione saúde.

Urgem lições deste swing Português que ensina, como nenhum, como inserir a economia paralela dentro dos cofres do Estado e ainda criar postos de trabalho com esse esquema, pertencer à Zona Euro, ter um défice que ninguém sabe como se calcula realmente, serpentear as Leis e, no final, alguém ser recompensado por isso. Em resumo, fazer regressar esses países às origens do seu desenvolvimento actual.

Ao Países do terceiro Mundo basta polir a diplomacia e politica externa e puxá-los da origem de onde parte sem que a evolução seja disparatada ao ponto de chegarem ao Primeiro mundo.

Percebe-se, basta fechar os olhos, que estamos entre o Primeiro e o Terceiro Mundo. E eu, como também sou Português, acho que assim não está mal de todo. De facto, pensando melhor, até está muito bem mesmo.

Mais vale morrer que ficar paralítico e mais vale estar entrevado do que morrer. Por outras palavras, antes ter estes “Gilbertos” que outros piores. Somos mesmo um povo cheio de sorte, não somos?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Duas Moedas


Existe um homem que tem um cofre com duas moedas. Tira uma das moedas para salvar a vida a um grupo de mineiros soterrados numa caverna. A outra moeda entrega-a a uma fábrica. Fabricar-se-ão munições para tirar a vida a outros homens que se soterram a si próprios, em outras cavernas, do outro lado do mundo.

Não existem homens iguais porque todos calcorreiam destinos diferentes, assim como as moedas que, mesmo saídas do mesmo cofre, têm o seu próprio e individual caminho para fazer.

Podemos alterar o peso, a medida e o valor de uma moeda. E, desde os primórdios, temos aplicado o mesmo princípio ao valor da vida humana.

Um dia haveremos de sair da puberdade com o sofrimento parturiente da percepção do erro fundamental.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O respeito dos Ignorantes

"Nunca ambiciones ter o respeito de alguém que, ao contrário de ti, julga ter o futuro assegurado. "

autor conhecido, eu.

domingo, 13 de junho de 2010

O meu vizinho tem uma Vuvuzela



O meu vizinho tem uma Vuvuzela. È a sua Vuvuzela. Podem existir muitas Vuvuzelas mas aquela é a sua e não existe outra igual. A sua Vuvuzela é a sua melhor amiga. Domina-a como domina a sua própria vida. Sem a sua Vuvuzela sente-se inútil e a sua Vuvuzela é inútil sem ele. Ele sopra a sua Vuvuzela com a alma e, com ambas, sopra contra os seus temíveis inimigos. Sabe que, soprando com força, vencerá as Vuvuzelas daqueles que sopram contra ele. E, perante Deus, reza, sabendo que defende o seu pais com a sua Vuvuzela. E vai soprar, haja pulmão, até não ter inimigos…..E não ter amigos também!


O meu vizinho brame a sua Vuvuleza, acaricia-a com os lábios e enche-a de pulmões. O som faz-me lembrar um touro solitário nas lezírias de Vila Franca. Ao primeiro “MUUUUU” a sua mulher sai de casa.

Será que ela sai por não suportar ouvir a Vuvuzela ou será que ele toca porque ela vai, outra vez, sair sem ele?

terça-feira, 8 de junho de 2010

LOST



LOST

O argumento num parágrafo



“Existia uma Ilha que tinha uma rolha. Quem tirasse a rolha rebentava a bolha. Como em tudo na vida, uns queriam tirá-la e outros queriam mantê-la enfiada”


Para que não haja sarilho, o LOST foi, do meu ponto de vista, o melhor argumento televisivo de todos os tempos. Poderão, como defende convictamente a minha mulher, os argumentistas ter tomado demasiados ácidos. È, também, altamente provável que se tenham perdido nos caminhos argumentativos e que, juntando agora as estradas, existam demasiadas rotas sem sentido e a desembocar no vazio.

O segredo do êxito foi usar os ingredientes de sempre e misturá-los numa fórmula nova.

Amor, separação, abnegação, purgatório, paraíso, perda, “achamento”, herói, vilão. Nada de novo nos ingredientes.

A fórmula, no entanto, revolucionou a ciência da argumentação televisiva. Presenteou-nos com uma imagem, quase real que, não obstante a crença ou falta dela, a vida não acaba com a morte. Que existe uma ilha para continuarmos…nem que seja para recordar o que vivemos.

domingo, 30 de maio de 2010

O Grande Zero à Esquerda

Manuel Alegre e Marta Rebelo dançam numa metáfora geométrica. As suas orbitas de percurso político desenham, no horizonte político, uma grande circunferência, uma bola…em suma, um grande e redondo Zero.


Alegre termina o seu ciclo de empregado da Assembleia da Republica. Marta iniciou o seu. Um pensionista e uma debutante. Politicamente, ambos iguais, ambos inúteis.

Não espanta, por isso, que Marta se tenha insurgido contra o apoio do PS a Manuel como candidato oficial à Presidência da Republica. Como explicar que se reconheçam competências tão elevadas a alguém que se limitou a estar 30 anos sentado no Plenário?

Os Psicólogos chamam-lhe “projecção”, os eruditos chamam-lhe “herança dinástica” e, os Portugueses em geral, choram.

Certo e sabido é que os deputados representam os Portugueses. Uns serão inteligentes, outros nem tanto, uns serão trabalhadores e outros apenas detentores de um emprego, haverá quem não saiba como foi eleito e até quem leve a sua missão a sério.

Indago-me, talvez demasiadas vezes, como é que algumas personagens chegam a tão distinto cargo. Encontro, invariavelmente, a mesma explicação. Serviram, para além de serem peões no xadrez das listas de deputados, de espelho para que outras estrelas se elevassem num brilho artificial.

Por outras palavras, se este texto for comparado com o texto de uma criança de 5 anos, talvez até eu pareça inteligente e o pobre petiz um grande Zero à Esquerda.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O caminho


Quanto mais aproximo a minha escrita de mim próprio menos leitores tenho no blog.


Acho que começo a encontrar o inicio do meu caminho…

domingo, 7 de março de 2010

Liberdade de Imprensa – Um crime contra a Humanidade

Passo, normalmente, sem parar. O meu passo abranda só o suficiente para espreitar pelo vidro e ver as horas na televisão. Mas desta vez paro. A notícia é tão cativante quanto a própria natureza humana. O rodapé da notícia é marcadamente desumano, o tema anula-se na notícia e os protagonistas transfiguram-se como caricaturas deles próprios.


Saía da empresa tarde, costume. Saio à porta e viro à esquerda. Uso costume e movimento reflexo, passo o olhar pela televisão do restaurante que fica à minha porta. O avançado de toldo verde, que invade o passeio e se espraia do prédio que o viu nascer é em vidro. O som é o da agitação da cidade em fim de dia. O da Televisão fica para os clientes que lá estão. Sintoniza, por norma, na SIC Noticias. Melhor para mim. Um canal com relógio permanente ajuda-me a percepcionar o quanto estou atrasado.

Estava, de facto, atrasado, mas era inevitável parar. Não precisei de entrar, nem do som da televisão para me deleitar com o doce banho de natureza humana, neste caso, no zénite da estupidez das massas.

O título era “Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Liberdade de Imprensa”, o Subtítulo “Comissão discute liberdade de imprensa” e os protagonistas eram os digníssimos deputados da Nação.

Entendo que se crie uma Comissão Parlamentar de Inquérito para discutir a Liberdade de Imprensa, mas o momento em que os trabalhos dessa comissão são transmitidos em directo num órgão de comunicação social em canal aberto, diz-me a lógica, que a comissão deixa de ter razão de existir. Por outro lado a notícia anula o tema e deixa de ser, ela própria, noticia.

O desejo de controlo das massas, tão próprio do ser humano, é subvertido, revestindo-se esta Comissão de uma desumanidade avassaladora.

Por fim, os deputados que a integram, findam a sua missão no momento em que se ligam as câmaras de televisão, ou seja, logo no inicio dos trabalhos. Desta forma, todo o restante tempo em que permanecem na sala agrava a figura caricatural, de que muitos já se revestem, para um grotesco arrastar de um trabalho desprovido de sentido e que é remunerado com a mesada que para lá mando todos os meses.

Mousse 3 Sabores - Os tipos de Politicos

Existem 3 tipos de políticos.


Os Profissionais, os Proscritos e os Simpatizantes.

Os Simpatizantes são os únicos que nunca conheceram os sistemas partidários o suficiente para não serem nem Profissionais nem Proscritos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Avatar" à Vontade


O "Avatar" de James Cameron caiu nas bocas do mundo. E se cai, neste caso na boca, é porque veio de cima, neste caso, da cabeça. Pelo menos da minha, caiu qualquer coisa.

No dia seguinte tinha o cérebro num loop de excertos chapados da tela. Não me peçam adjectivações nem análises. Para adjectivações teria de escrever um outro post, tão inútil quanto este, e para análises não me cabe nas parcas competências de cinéfilo assim-assim.

O que vos trago são duas ou três pequenas curiosidades banais, no entanto, só possíveis nesta experiencia de "Avatar 3D".

Todos nos já experimentámos aquele nervo miúdo que nos cerra os dentes por causa dos atrasados crónicos que insistem em entrar na sala depois de começar o filme. Jantámos a correr e queimámos a língua no café engolido de trago solitário. Corremos a comprar gomas sem tempo para critérios de escolha para depois descobrir, já dentro da sala, que as desgraçadas das azul-choque sabem a mosquitos e que as boas eram as verdes florescentes com riscas de rosa fuccia. Ainda para mais esquecemo-nos de comprar agua o que nos vai levar ao inevitável calvário da agonia da sede depois da gula. Tudo para entrar a horas na Sala, relaxar e dar de barato o bilhete.

Pequenas agruras que evoluem para a frustração total quando estamos a começar a descontrair com inicio esperado e, sem esperarmos, alguém passa em frente da Tela. Barata tonta que olha em todas as direcções, surrealmente ainda chama pelo nome do amigo em voz alta e, com pouquinho de sorte, volta para trás e vem-nos perguntar se não estamos sentados no 6C. "C"? Era onde me apetecia mandar-te sentar.

Em "Avatar" 3D não acontece. O ignóbil do atrasado passa, não em frente à tela, mas dentro da tela. Passa a fazer parte do filme. Pernicioso para o realizador mas confortável para quem assiste. Chega até a ser curiosa a sensação de conforto de ver esse personagem dentro da cena estando, de facto, fora de cena, em todos os sentidos.

Inicia-se a projecção. Sentimos os cérebro a reorientar-se para uma realidade visual incomum. A experiência 3D começou por me assustar. Se na Expo 98 quase fiquei nauseado com 10 minutos de um filme 3D com bichos marinhos á minha volta, como iria aguentar mais de 2 horas sem saco de enjoo? A sensação passa e passa-se, literalmente, para outra realidade. Um gourmet visual inesperado.

"Avatar" peca, no entanto, por alguns tiques, aqui e ali, da formatação de Hollywood. A historia de amor impossível, o crescente musical que acompanha o herói nas suas vitorias, os militares e a nação Americana e a derrota do mal material subjugado à beleza interior do homem. "Avatar" consegue, no entanto, a transmissão de uma novo conceito emocional. O conceito da importância da ligação do ser humano à natureza e à energia de todas as formas de vida.

Além do 3D esta é a verdadeira inovação de "Avatar". A historia de amor, relatada pela metáfora da paixão entre os dois protagonistas, é entre o Homem e o seu próprio planeta. A nossa relação com a energia da Terra e com todos os seus elementos, de tão evoluídos que pensamos que ficámos, é uma relação com um deus menor. Deuses maiores governam. O deus do Centro Comercial, do carro de gama alta, dos sapatos que apertam e daquela gravata que não desaperta...São tantos.

O deus menor é, no entanto, a nossa maior porta de saída para miséria emocional em que nos metemos, metendo na cabeça que até somos felizes.