domingo, 25 de outubro de 2009

Saramago, O Guardião da Bíblia

“Caim” reavivou memórias e o braseiro da polémica atiça uma fogueira que se julgava em rescaldo.

Aos Homens de Deus, do século presente, é vetado o ígneo desejo. As fogueiras são hoje metafóricas, tal como se deseja que seja a leitura da Bíblia. Literal é a ostracização social que advém da liberdade de dissidência. A carne assada da idade das trevas, literal, deu lugar à cozedura de intelectos numa panela de água fervente com molde de cérebro, metafórica. José Saramago não irá arder nem, tão pouco, será possível que lhe cozinhem o intelecto. Nem neste mundo nem no próximo.

José Saramago é o paradigma da defesa de Deus. A sua relação com Ele é como a de um filho que ama e admira secretamente o pai mas que padece de uma relação conturbada nos dilemas das indecisões diárias da figura paterna.

O “Evangelho Segundo Jesus Cristo” foi a toma de coragem na primeira afrontação. Questionou o Pai. Porque havia Ele de deixar que os Homens tivessem feito letra própria de uma palavra que não era a Sua? Que veleidade essa de permitir um Concilio onde foram escolhidos Evangelhos desviantes da sua Vontade? Um Criador deveria interceder e corrigir o caminho dos Homens que criou. Sente que os Homens fazem o que querem da Filosofia de seu Pai. Seja na Bíblia, em doutrina ou cultura Popular. Sente-se defraudado.

A idade não lhe esbateu a coragem de querer entender porquê. Não quer confrontar os seus irmãos. Não lhe interessa. Sabe que são inocentes mesmo quando a crueldade lhes guia a vida. A figura de Pai ausente obrigou os irmãos a fazerem as regras da Casa. Como qualquer Pai que abandona a sua Casa, levou consigo a esperança que os conselhos deixados em “post-it”na porta do frigorífico fossem suficientes e sapientes. Mas os seus filhos, feitos à Sua imagem, têm a mesma prerrogativa do abandono. As regras da Casa, escolhidas e encadernadas, foram o primeiro abandono dos conselhos do Pai. Chamam-lhe Bíblia. Disse ao irmão Carreira das Neves – “A Igreja não percebe nada de Deus”.

Mas não perdoa ao Pai. Não pelo abandono mas porque Este não lhe responde. Tinha prometido que, mesmo ausente, seria omnipresente. Que mesmo sem voz audível nunca deixaria de ser voz presente. Que a sua invisibilidade seria complementada pela luz do caminho a seguir. Mas as Regras da Casa endureciam em imputações de culpa, castigo, penitência e subjugação. Em nome de um Pai ausente e camufladas com um castrante “seria assim que ele desejaria”. Consciente do esventramento do velho “post-it” do frigorífico, não conteve a revolta. Num fôlego desabafou. È um Filho da Puta que trabalhou seis dias, descansou no sétimo e até hoje não fez mais nada. Excedeu-se na metáfora. Deus não tem mãe e o pecado original é posterior à Criação.

José que, ironicamente, tem a graça do pai do Filho do Homem é, de facto, o Guardião do Livro das Regras da Casa.
A idade mental dos irmãos mede-se pelo vociferar violento contra José quando este os questiona. Alguns já foram membros do governo e outros são eurodeputados e deputados.

É que o Livro foi escrito como arma de controlo para que os intelectualmente mais fracos pudessem mandar na Casa e dominar os irmãos que se mantêm fiéis ao “Post-it” do Pai.
Isso deixa de ser possível se o Livro é posto em cheque....ou em forma de cheque... ao Portador.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O Farol de César


Meu caro amigo César,

Longe vai o tempo que te conheci no incontornável congresso da Chamusca. Ficou célebre o evento. Era um dourado caldeirão de novas ideias a fervilhar na febre dos amigos novos que se faziam a cada palavra. Análises politicas profundas na medida que a nossa inocência nos permitia e a agregação de sonhos pessoais e colectivos. No fim da safra ficou a demanda de 20 imperiais de cada vez para uma mesa de 9.

Desse tempo para cá ficou uma constante. O César Diogo era de Muge e ostentava com orgulho a origem. Não queria ser de mais lugar nenhum, não ambicionava ser deputado ou ministro. Simplesmente era de Muge e, pilar dessa condição, justificava, per si, a estadia. Um único desejo. Representar a sua terra.

O sufrágio das últimas autárquicas premiou a linha condutora da tua coerência e perseverança.

Ser Presidente da Junta de Freguesia de Muge é representar, defender e zelar com o mais nobre grau, o que sempre representaste. O teu povo. O Povo deMuge.

È por isso que és um Farol. Um Farol de esperança nos Homens que acreditam em sonhos e se mantêm impolutos da pequena política feita de engodos de cargos que pensam querer e que os fazem desviar da crença original.

Não será exagero o titulo do artigo. È tão adequado quanto o teu novo cargo.

Marcador Fluorescente

Uma pessoa, uma ideia.

Depois duas e, contágio, num ápice foram 20.000 a dançar. Celebravam a alegria da dança e da música. No fundamento, celebravam a intensidade de pertencer a uma humanidade que vibra quando pensa ou sente que partilha algo maior.

Foi assim com os “dançarinos” de Alexandre, César, Napoleão, Bolivar, Hitler, Ghandi, Benazir, Evita, Mandela ….


Chocados por estarem todos no mesmo saco? Não é um saco! È o Planeta Terra.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Coca-Cola da Vida

A minha Avó fez ontem 80 anos de vida. O meu filho fará amanhã 8 meses de uma outra vida.

Renuncie-se aos clichés, frases feitas, filosofias lamechas e outras comiserações. Repudie-se o esotérico das vidas passadas e dos futuros astrológicos. Desconsidere-se as mentes atormentadas que, isoladas em espaços escuros e amorfos, intentam a percepção da sentido da vida.

A vida não tem segredo. Vive-se na importância do agora, do que podemos agarrar num momento e perpetuar na memoria.

Os criativos da Coca-Cola superaram, em três palavras, todos os filósofos na síntese da profundidade do sentido da vida de cada um de nós.

“Enjoy the Moment”

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pensamento do dia 6 de Outubro

"Quanto melhor conheço os Sistemas Políticos mais feliz fico com o fracasso daquilo que não atingi"

Pedro Miguel Gaspar

domingo, 4 de outubro de 2009

A Birra






Recebi, hoje, uma mensagem de um bom amigo. Passaram 5 dias desde as legislativas e nem um post meu. Puxava-me as orelhas. Respondi. Agarrei as teclas do telemóvel e, atabalhoadamente, tentei justificar.

A verdade é que estou com a birra. Tenho para mim, no entanto, que não sou o único.

Estas legislativas foram marcadas por birras que culminaram no resultado eleitoral que se viu e que pode ter o apogeu na demissão do governo ou, pior, em 4 anos de um marcar passo angustiante de intermináveis negociações à esquerda e direita, com todos a reclamarem o protagonismo de reformas essenciais.

O presságio para os tempos mais próximos é sempre dado nos discursos dos líderes dos vários partidos, logo na noite eleitoral.

Dos últimos para o Primeiros

O PCP congratulou-se com o resultado. Ficou em ultimo mas valorizou a entrada de novos militantes, exortou a renovação de quadros e apoiantes. Não perder votos, num Partido há tantos anos vaticinado como lázaro, é motivo de festa. São sempre os mesmos votos, mas preciosos nesta batalha pela sobrevivência. Vai perpetuar a birra e a cassete. Nada de novo vai trazer a este novo ciclo.

O Bloco de Esquerda rejubilou. A estratégia do Grande Timoneiro foi cumprida. Retirar a maioria absoluta ao Governo em funções. Ainda encheu o peito de ar para dizer que ganharam os Professores. Confundir a ambição de vir a ser um partido de Governo com uma agenda afunilada a algumas classes profissionais irá resultar no esvaziamento rápido deste balão insuflado pela birra de alguns portugueses que teimam em ser mais beneficiados que outros.
Parece uma birra da velha direita…feita por um líder da extrema-esquerda, quiçá revoltado com a alta burguesia portuguesa…da qual faz parte. O crescimento do BE trará, proporcionalmente, o agigantar da sede de protagonismo. Sendo condição haver birras para colher protagonismo, o BE será o grande entrave da recuperação económica do Pais.

O CDS atingiu o Zénite. Cresceu de tal forma que está no limiar de ser um “grande”. O futuro lhe ditará o destino. É um “partido-empresário”. Apostou tudo de forma sustentada. Ou continua a crescer e singra, ou entra em insolvência. Mas tem mérito. Apresentou o seu programa, defendeu-o, esquivou-se às tentações das quezílias de campanha e abriu espaço à direita angustiada pela erosão do PSD. Seja qual for o sentimento que nutramos por Paulo Portas, temos de reconhecer que a sua birra é uma obstinação positiva pelo que defende e que a sua capacidade de entrega é avassaladora.

O PSD teve o mérito de marcar a percentagem exacta de eleitores fixos, ou seja, por pior que seja o programa ou o candidato, neste caso foi um cumulativo de ambos, saberemos sempre que 29% dos votos estão garantidos. Aqui apenas Ferreira Leite fez birra. Antevendo que o PSD não ganhava e que os companheiros com ambições ao cargo de PM se protegiam do calor da fogueira, protagonizou a birra da teimosia e imolou-se. Poucos vieram apagar o fogo e alguns, com retoques de sadismo, ainda lhe solicitam a presença em campanhas autárquicas votadas ao insucesso. Não chega já? Deixem lá a senhora em paz que ela serviu muito bem os companheiros de partido.

O PS perdeu as eleições. Sócrates é o único que não fez uma birra mas, presumo, prepara-se a fazer. Perder a maioria absoluta num Pais que precisa de reformas para recuperar a economia e os equilíbrios sociais é desastroso. Negociar com Louçã? No ocidente temos o habito de não negociar com terroristas. Acordar com Jerónimo? Não. Com o PCP seria adormecer com Jerónimo a passar a cassete do proletariado. Bloco Central? Desproporcional e fora de tempo. Com Portas? Pode mesmo ser a única solução. Pode parecer contranatura, mas a mescla entre o pendor social do Partido Socialista e o rigor das políticas sociais do CDS poderia dar um equilíbrio interessante. Ambos reformadores e ambos estrategas.

Não vai acontecer, certo é.
Mas o que não pode mesmo acontecer é ter um governo manietado, ao sabor dos minutos de prime-time que cada líder quer somar nos media, incapaz de implementar medidas nado-mortas pelos impasses negociais sucessivos onde, para além dos lideres, as corporações vão tentar inverter as reformar até secar completamente um pais que não produz riqueza.

E, será aqui que Sócrates poderá fazer uma Birra das grandes. E lá vamos nós todos direitinhos às urnas de voto.
O timing? Seria interessante coincidir com a escolha do novo Presidente da Republica.

Obrigado pelo puxão de orelhas Sr. Engenheiro!

Fim de Mandato



Terminei a minha missão como Deputado Muncipal em Alpiarça.


Escreve e li o meu discurso de despedida, que partilho convosco. É lamechas...Mas é meu!


"Exma. Sra. Presidente da assembleia municipal
Exma. Sra. Presidente da câmara municipal
Exmos. Srs. Vereadores
Exmos. Srs. Membros da Assembleia Municipal ou Deputados Municipais (com o
Maior respeito pelas instâncias reguladoras destas matérias de forma. E
Com o maior respeito que tenho por todos)

QUERIDOS ALIPARCENSES

Apresento-me hoje, perante todos vós, naquela que será a minha última intervenção nesta câmara enquanto membro da mesma.

Recordo-me da minha tomada de posse, há 8 anos, e do caminho trilhado até ao dia de hoje.
Recordo-me de cada um dos Membros de todas as bancadas, Presidentes, Vereadores e cidadãos atentos que seguiam e seguem pontualmente todas as sessões desta Assembleia.

Recordo-me, também, das argumentações acaloradas, do sussurrar das estratégias nas diferentes bancadas para afinar o discurso. Recordo-me das divergências e recordo-me das convergências.

A marca de água da política é a divergência de opiniões na nascente, argumentada num rio de curvas e turbulências, com o elevado objectivo da convergência possível no encontro final com o mar.

Cesso hoje o meu mandato com tranquilidade. Uma tranquilidade exactamente contrária ao nervosismo do primeiro dia.

Sim, o primeiro dia. Quem não se lembra do primeiro dia de cada momento importante da sua vida. O primeiro dia da escola, o primeiro dia que se é Pai, o primeiro dia que nos dão uma lição.

Seja uma lição de vida, seja uma lição política, também existe um primeiro dia para entender que a aprendizagem é contínua. Esse é o primeiro dia em iniciamos a nossa formação como cidadãos. Seja aos 5 ou aos 50 anos.

Porque divergência é pluralidade e pluralidade é democracia.

Muito debatemos, argumentamos, discutimos. Perguntarão, alguns, para quê?

Permitam-me que responda. Porque do debate nasce a ideia. Da ideia a inovação e da inovação nascem os projectos que tornam algo melhor. Neste caso a nossa terra. È essa a democracia que defendo e defenderei.

Espero ter sido correcto com todos, sobrepondo-se o respeito que tenho pelos adversários ao combate que travei nas matérias que discordava.

Tendo a consciência que vos respeitei, permitam-me também, de forma genuína, agradecer-vos.
Agradecer o que me ensinaram como homem e como politico. Ora discordando, ora apoiando, ora veiculando visões novas sobre a política, a nossa terra e as nossas gentes.

Agradecer a todas as bancadas, à Presidente da Assembleia que acompanhei, aos dois Presidentes de Câmara que apoiei, aos Vereadores do PS e da CDU, aos incansáveis secretários da Mesa, aos líderes das bancadas, aos membros da Assembleia, aos assessores, aos técnicos de som….no fundo aos Alpiarcenses. Porque é essa nossa condição mais nobre.

Hoje desempenhamos uma função, amanhã outra ou mesmo nenhuma. Não importa. O que importa é a função essencial de sermos Alpiarcenses, de sentir que somos desta terra e que essa terra é o nosso verdadeiro “Partido”.

Obrigado.

Pedro Miguel S.B. Gaspar

Membro da Assembleia Municipal de Alpiarça"
Pronto...Já está!
Ninguem bateu uma unica palma.