Tão poucas palavras para um agradecimento tão intenso.
As lágrimas, genuínas como tu, chegaram ainda a tempo de envolverem as palmas dos amigos e mesmo a tempo de se fundirem com o fumo das velas do teu bolo de aniversário.
Registei, uma por uma, cada palavra. Não foi difícil por serem poucas, foi por serem tão sentidas. Sentidas por ti e por quem te ama.
“30 Anos, 30 pessoas…as pessoas mais importantes da minha vida”.A minha singela homenagem, na honra de pertencer a esse punhado pessoas que tens no coração, é contar-te o que não viste…na tua própria festa.
Como um caranguejo
Começo pelo fim. Arribei a casa sóbrio e exausto. Não Cayolla, nem sempre te posso acompanhar. Perdoa-me a falta de solidariedade, meu bom amigo. Exausto, não da festa, mas da espontânea tarefa de consultor, da qual foi incumbido, para futuros Papás. Foram workshops sucessivos a carecer de sensibilidade estratégica para não influenciar decisões e acordos firmados entre pombinhos. Sóbrio pela mesma razão.
Recebidos, eu e a Joana, por uma esplendorosa aniversariante, linda de morena e de branco vestida, fomos encaminhados, de imediato, para o quarto. (espero que ninguém leia este paragrafo isolado, não vá parecer que eu e a minha mulher fomos a outro tipo de festa).
O Quarto da Catarina
Conclave no Quarto, iniciei os meus labores. O André apanhou-me e, naquele registo de sorriso contagiante e sincero, com um humor inteligente e refinado que é a sua marca água, esbofeteou-me sucessivamente e sem piedade com todas as perguntas que se lembrou sobre a paternidade. Dei-lhe a realidade nua e crua, sempre supervisionada com a experiencia do Gonçalo que já tem 4 anos maravilhosos de Diana. Fiz o meu melhor, mas fiz mal. Dizer-lhe que acordo ao Sábado às 06h30 arrasou-lhe os sonhos de uma paternidade breve. Querida amiga Carla, perdoa-me que não sei o que faço, nem tão pouco o que digo!
Enganar criancinhas Mas quem “ensina” também aprende. Contou-me, o André, como se engana um filho. Em duas experiencias. Uma na primeira pessoa e outra como observador. Observou nos Açores, com a sua Carla, como é que uns amigos, que têm um pequenote que só gosta de Bife, lhe dão peixe para comer. Para enganarem o petiz fazem polvo gizado, cortam os braços do bicho às fatias e tiram os tentáculos. O petiz pergunta o que é aquilo. Eles dizem que é “Bife de Polvo, filho!”. E o puto sorve o suculento bife enquanto o imagina o animal a pastar numa pradaria.
Na primeira pessoa, ele próprio, como vitima destes esquemas escabrosos do Pais. Para largar a chucha prometam-lhe que lhe dariam um equipamento do Benfica. Ela largou a chucha mas deram-lhe apenas uma bandeira. Hoje, ainda traumatizado, relata a história com os olhos molhados. Comprou lugar cativo na luz, presumo eu, para compensar o desconsolo da abstinência da chucha.
Conselhos Parvos
A Carla e o Daniel também quiseram saber um pouco mais deste desporto radical de ser Pai. O que lhes contei do parto da Joana, do facto de ela não dormir 8 horas seguidas há quase 7 meses e da revolução da vida burguesa que se leva antes de ter um filho, empurrou a Carla para uma reflexão mais ponderada. O Daniel, no seu registo alternativo que não cessa de me surpreender, dissertou sobre o Diploma de Mérito que Mussolini atribuía às mães italianas com mais de 4 filhos.
O Telmo e a Inês continuam eufóricos com a aproximação da data do nó. Perguntou-me, quando saiamos às 2 da manhã, assim do nada, se eu tinha algum conselho para lhe dar, como que saído da algibeira. Aquela hora, com vinho Cheda do Douro, disse-lhe que podia ser boa ideia fazer um Ramadão até ao casamento para ter uma Lua-de-Mel inesquecível. Por falar em conselhos parvos….
A Varanda
Na varanda, em animada conversa com o Gonçalo, ele repara na reluzente menina que esta sozinha na outra ponta. Pergunta-me se eu a conheço e se posso fazer as honras. Viro-me e vejo a minha boa e fiel amiga Joana Quirino…que já é noiva do Gonçalo. Entro na brincadeira. Ela não se mostra interessada. Diz-me que a Morangoska lhe assenta melhor que os olhos azuis do meu amigo. No fundo é amor profundo. Afinal, a Joana e o Gonçalo, vão casar já daqui a 2011.
O Pedro Catarino
Entra o co-anfitrião em cena. O Pedro é um companheiro fantástico. Para a sua Catarina e para os amigos. Perfil discreto mas sempre presente, não permite que ninguém se sinta sozinho. Na varanda, na cozinha, no quarto, na sala. O Pedro está em todo o lado, tem sempre algo inteligente para dizer, mesmo depois de ouvir, durante intermináveis minutos, teorias e lamurias sobre os jogos de sombras do mundo da política. Concluiu, para os que se queixavam das deslealdades, facadas nas costas, rasteiras e tropelias, com uma frase que nos estalou na cara;
“Mas essas são as regras, não são?”
Chegar antes para contar depois
Desta vez não fomos os últimos. Para quem, como eu, tem o hábito nefasto das más relações com os relógios, chegar antes e receber os outros é uma experiência que aconselho. Aprende-se imenso porque cada pessoa que chega vem imbuída num pensamento e numa história anseia partilhar com os amigos.
A Minie vinha radiante de Londres. Tinha viajado em classe executiva, na Easy Jet, na companhia do Económico CEO da Virgin Portugal.
O Miguel tinha vindo de Londres, também, mas propositadamente para festa da sua “irmã”. Vinha com Gripe A mas não o podíamos mandar embora depois de todo aquele sacrifício. Ele lá ia dizendo que era do Ar Condicionado mas a malta passou a grande parte da festa a lavar e a esfregar as mãos pensando nos folhetos e anúncios que nos infestam de medo. Tenho cá para mim que os accionistas da Roche também esfregam as mãos, mas não é com água.
A Nádia, minha futura colega de Governo, contagia-me sempre com o sorriso aberto e com uma energia positiva tão própria dos bons. Não falámos muito mas fumámos uns cigarros enquanto se assistia à vida privada dos vizinhos da frente.
Paulinha, a cidadã. Já não nos víamos há muitas luas mas existem coisas que não mudam. A Paulinha é daquele tipo de pessoas que não se esquecem e com quem reiniciamos uma conversa que ficou a meio, há mais de um ano, como se tivesse ocorrido a semana passada. Inolvidável.
Enjoar o desenjoo
A Sofia reconheceu-me. Sem fato e gravata, no registo informal que tanto gosto, falámos sobre a maratona que é enjoar e desenjoar dos restaurantes na zona onde trabalhamos. A Marta Telles concordava. Somos todos vizinhos. È um circo e um ciclo. Vamos uns meses a um restaurante e enjoamos. Passamos ao próximo e voltamos a enjoar. Até que damos por nós a almoçar no primeiro que enjoamos,já enjoados de todos os outros.
Até falamos de um tal restaurante na Av 5 de Outubro que, segundo a Sofia, tem empregadas "recicladas". Ingénuo, quis saber mais sobre esse conceito. “Epá, trabalhavam todas numa casa de meninas quando eram mais novas. Agora são empregadas de mesa”. Pensando bem Sofia…
2.oo p.m.
Senti uma vibração no bolso das calças. A Joana já estava à minha espera. O Telmo, a Inês a Sofia eram as damas de companhia de minha dama. A Rua estava lotada de novas cores, tendências e gostos. A Catarina, anfitriã e bar-killer, já não se importa muito. Despedi-me e desci. Rua abaixo, fui falando com o Telmo sobre os putos de hoje em dia. Tatuados, trongos no vestir, radiantes no calçar e todos furados, parece que não têm valores nem objectivos. Claro que têm. São os deles. Necessariamente diferentes dos nossos, para que possam sentir a amargura da crítica, a ousadia de ser diferente , o gosto de estar desalinhado. Nós também crescemos assim. Agarrados a um barco prestes a naufragar a todo momento, lutámos, ganhámos força. A maioria chegou à costa. È por isso que hoje olhamos para este presente com o desdém de marinheiros com pele de cortiça, feitos noutros tempos.
Cai o Pano
Cai o Pano, fim de festa. Nem por isso. A festa de um amigo especial nunca acaba, porque nos fica para sempre impressa. È a nossa memória, faz parte indelével da nossa vida, da nossa identidade.
Porque a identidade de um só é possível com a partilha da identidade de outro.
Parabéns Catarina Lins