quarta-feira, 13 de junho de 2012


Alpiarça Alvorada


Alpiarça, onde é que é isso?


Tenho passado uma boa parte da vida a explicar, com alegria e orgulho, onde é, e o que é a minha terra. Qualquer pessoa sabe que para sabermos quem somos é fundamental saber de onde viemos. As raízes, a família, o cheiro da terra lavrada, as lagrimas dos que ficam ao ver outros partir. Sentem-se os pequenos lugares, aquela fonte que nos intrigava quando caminhávamos para a escola ou a estrada em pedra que nos castigava os pés mal calçados. As carroças, “coquineques” e tractores que, pela manhã, já levavam meio-dia de trabalho. Gente de pele queimada mas com sorriso brilhante. Um sempre em tronco nu. Vendiam-se melancias à borda da vala. Compravam-se muitas Minis à borda da vala. E o sol ia passando, dia após dia, para nos marcar o passo. Os homens pisavam uvas e os gaiatos bebiam o mosto às escondidas. Depois, de zurrapa, os gaiatos ouviam histórias de um passado recente e comum. Lutas, sempre as lutas. Desde o tempo das paulitadas entre os “caraças” e os “malhados”, as patrulhas da PIDE, levantamentos do povo, ocupações, bandeiras negras da fome, bailes de “gaibéus” com escaramuças em música de fundo. Um povo guerreiro, um povo com orgulho.

Hoje, continuo a explicar, com orgulho constante, onde é a minha terra, quem são as minhas gentes, de onde vieram os meus avós.   

Mas, hoje, continuando o orgulho de ser, falta-me a alegria de sentir.

O passado e a herança são fundamentais para sabermos quem somos. Mas o presente é essencial para sabermos quem viremos, no futuro a ser.

E o presente, a cada dia que passa, é como o Tejo no qual Alpiarça se encosta. Agua estagnada e escura e montes de areia velha em vez de um rio com vida, de águas límpidas e areias novas e lavadas.

Alpiarça vai envelhecendo e arrastando-se. Amorfa. Uma Rua Direita de casas a cair, uma Casa Museu dos Patudos única no pais e à qual se dá a mesma importância que a uma adega de vinho, uma zona industrial escondida atrás de um monte de terra escavada, um parque de campismo que parece saído de um filme de cidade abandonada e assombrada.

Como ter alegria ao ver pessoas que escolhem a nossa terra para viver, vindos de outro País, a vaguear por essa reserva ecológica, usando-a para cuidar da sua higiene pessoal? 

Como ter alegria quando, numa terra em que existem tantos praticantes de caminhadas nocturnas, algo tão raro no País como saudável para quem as faz, se atravessem tantas zonas sombrias da vila, sem luz, como se a própria chama de Alpiarça se estivesse a apagar de dia para dia?

E este é o sentimento que vai atando as mãos devagar. Fomos aceitando o destino e deixámo-nos assombrar e adormecer.

Os decisores de Alpiarça foram distribuindo analgésicos morais e ideológicos. Ficámos adormecidos e dormentes com a famigerada crise e com as supostas dívidas do passado. Deixámos de acreditar em nós e na nossa terra. Porque assim é mais confortável. Pensar e desenvolver é uma tarefa dura e o povo é mais feliz quanto menos tiver que pensar. O mesmo se passa em Repúblicas que não são Repúblicas de Coreias que não são do Sul.

Eu sou daqueles Alpiarcenses que prefere não tomar esse comprimido para dormir. Eu sou daqueles Alpiarcenses que sabe que a terra que os viu nascer não é terra que, hoje, se quer amolecer e controlar. Alpiarça não é terra de gente mole. É terra de um Ribatejano rijo com sangue a fervilhar. Quero estar desperto, atento e sentir o pulso da minha terra.

Alpiarça, por mais que venham para a rua gritar, é uma terra de futuro e de futuros. É uma terra de gente lutadora, gente briosa e capaz, de novas gerações que conhecem o mundo e preferem voltar. De gentes de outras terras que a escolhem para morar. Tem terras férteis, industrias que crescem, paisagens únicas e um potencial de turismo sem paralelo. Em resumo, tem tudo para ser feliz.

Eu acredito numa nova Alvorada e num futuro melhor.

Eu acredito na minha terra.

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