segunda-feira, 20 de junho de 2011

14 em Verso


Versículo # 1

Anno Domini de 1981















Joana, Joana

Acorda Joana

Agarra no ar a alma que contigo nasceu

Une o teu corpo de menina, corpo em dor

Que separadas brotaram deste ventre meu

Que juntas farão a tua lágrima de amor



Versículo # 2


1981 – Pai Primeiro


Joana, Joana

Onde está a minha filha nascida?

Incontáveis os mosaicos que contei

Silêncio dos cigarros que me isolam nesta ilha

Perdido com tantos gelados que comprei

Para chorar ao som da primeira voz de uma filha



Versículo # 3


De Menina a Mulher


Joana, Joana

Estou para saber o que lhe deu

Não sei Filipe, coisas de miúdas

Parece que te falha a memória do mar

Que muito aprendeste de graúdas

Não te deve agora olvidar o que o mundo tem para dar

Tempos de Casacos Londrinos pelos pés

Alfa Romeo e cabelos ao ar

Não te furtes aos genes que és

Sei que por nada do mundo a deixarás de amar



Versículo # 4


Insónias de Pai


Mas Joana…

Tanto que massacras o teu corpo esguio

Que as orelhas de ouvir não se devem furar

Que pescoço de erguer não é em bicos de metal feito

O teu cabelo rapado que já não pode voar

Não são preparos de menina da Faculdade de Direito

Será Filha, a tua forma de te encontrar?



Versículo # 5


Lisboa, Menina Caloira


Esta é a Joana…

Estás convidada, partilha connosco a travessia

Quirino, Heitor e Xana, muito prazer, sou a Joana

O Marcelo até reparou no traje desalinhado

Mas existem pessoas que se destinam

Que mãos dadas fazem o caminho a ser trilhado

E amigas seremos em campos de amanhã que nos minam



Versículo # 6


Uma Salsicha na Praia


Olha Joana…

Não é possível!!!...Que salsicha é esta que o gajo traz?

Quirino, não fará mal fazer-lhe uma festinha

Que de Salsichas não somos muito entendidas

A tua vida flutua na areia da praia, assim como a minha

Não reneguemos o sol que pode vir de outras comidas

Não me quero lembrar do que não tinha

Quero viver antes da noite e depois das saídas



Versículo # 7


Sentar No Sofá


Pensa bem Joana….

A aparição será agonia, erva daninha no meu solo

Entrará de rompante, de bigode e camisa aberta

Trará consigo no arrasto, mulher já sua e filho de colo

Destroçará o teu coração, o da tua mãe pela certa

Não terá lugar no sofá sentado

Não serei complacente de simpatia, nem um pingo

Não será recebido como namorado….

Não o queres convidar para almoçar no domingo?


Versículo # 8


A Entrevista


Seja bem-vinda Dr.ª Joana

Entrará por essa porta, gabinete partilhado

Moça de Frutaria no supermercado, mas de canudo e formada

Será por mim conduzida e guiada, seu Patrono avalizado

Pouco explorada, por hora, obrigado, de nada

Pode-me tratar por Diogo, ponha o Doutor de lado

Não serei obediente mas permito ser ensinada

Pode-me tratar por Joaninha, que seja esse o meu pior fado


Versículo # 9


A Ultima Caminhada


Joana,

Joana, não chores

A chuva que não caiu, abriu pétalas de nuvens no ar

A luz da manhã era bruxuleante

Uma mulher puxava cabelos como se trabalhasse um tear

Um homem puxava gravatas com gesto pensante

Uma menina vestida de branco para casar

Uma Mãe ansiosa, de tanto pentear e penteada

Um Pai preenchido com alma arvorada

Uma noiva de lacrimejo intermitente, respiração apertada

Desceram juntos, num deslizar flutuante naquela ultima caminhada



Versículo # 10


Acelerou


Joana…Podes repetir?


Um toque, alguém do outro lado da linha

Renovado estímulo em cada nova chamada

Segue-se a aventura de algo novo que não se tinha

Abre-se o mundo, constrói-se uma outra estrada

Estas sentado? Tens de estar sentado!

Gloriosas são as notícias, vais ser Pai

Implode a fortaleza que se julgou que se tinha

Detonada por um coração demasiado acelerado



Versículo # 11


O Bife antes da Vida


Queres Bife Joana?



Bife será, que dura e longa será a tarefa que me espera

Com molho e bem passado, se não se importa

Que me importo eu com dores, passem depressa, quem me dera

Quem me manda a mim chamar o desejo por aquela porta

Numa tarde de namoros, flores e primavera

Intensos beijos, sofreguidão, amor recriado, uma hora

Nascerá em breve outro Amor, Santiago será o seu nome

Porque Maria já o era



Versículo # 12


Dr. Jorge Lima


Joana, Queres?


Quero-te comigo, segura-me a mão direita

A esquerda já foi tomada pelo soro, malvados

Sorrio por dentro com a ânsia do evento, por fora o meu corpo aceita

Serei forte pelos meus homens, nem ventos nem tornados

Rebentam-me os olhos, e o momento não nos aproveita

Está de lado e são quase dez horas, terá de ser operada

Era que mais faltava, logo eu, desistir assim

Antes explodir de dor, darei o que tenho até não ter nada

Senti tudo o que me foi dado, nasceu o Santiago

Nasceu de dentro de mim



Versículo # 13


Os primeiros meses contigo


Dorme Joana,



Confunde-se a noite e o dia, 3 horas de sono já seria cura

Mas aquele ser frágil, indefeso e de leito

Macio, olhos semi-cerrados e boca que procura

Batalha pelo seu lugar no mundo, luta pelo meu peito

Sabemos que não sabemos o futuro

Sabemos que falamos sem palavras, só pelo jeito

Sentimos que nos protegem do mundo que é duro

Sentimos o desejo de um trilho que se quer direito

E adormecemos os dois, no que sei hoje ser amor em estado puro



Versículo # 14


Ultimo de Hoje, Primeiro de Amanhã



Joana, a Mãe chama-se Joana



Palavras compostas, avulsas ou dispersas

Fotografias da minha retina ou de um outro flash

Pouco importa, porque da boca de Mãe tudo se disse em tantas conversas

Que o ouro está naquilo que sinto e que garimpo em cada novo dia que nasce

Aprenderei contigo e serei tua professora

Ensinarei os Lusíadas, que não há poema que se preze sem a Taprobana

Deixarei que sejas livre, que vivas, mas serei controladora

Santiago Maria, meu filho, a Mãe chama-se Joana





sábado, 4 de junho de 2011

E Fidel castro comprou um IPAD…2



Fidel Castro comprou um IPAD 2. Quer isto dizer que já tinha comprado o primeiro, devolveu na loja, dentro do prazo de experiência, e comprou a segunda versão.


 
Poder ser verdade ou especulação, mas é o ponto de partida para a mudança de paradigma na política internacional.


Algo vai mudar no mundo. Florescem os movimentos cívicos, existem centelhas de movimentos de inspiração anarquistas, pacifistas e retro idealistas. O pulsar da alma destas gentes leva-nos a acreditar que estará de volta uma geração de 60 que voltará a convulsionar e, inevitavelmente mudar o mundo.

Existem, no entanto, duas constantes que abalam os, ainda em construção, pilares destes movimentos. A primeira constante é a falsa convicção, já mitigada, de que podemos alterar a natureza política do Homem fazendo-o migrar do desejo de poder para um estádio de consciência social. A segunda é perceber se queremos mesmo mudar e para onde.

Os políticos irão sempre adormecer em sonhos de poder. E a consciência social estará sempre reservada ao indivíduo isolado, sendo medida pela sua personalidade. Ilumina-se então, como óbvia, a solução. Juntar os dois predicados. E aqui começam os reais problemas. Não são compatíveis. Quem deseja o poder e o alcança, no caminho que tem de trilhar e para ter sucesso, estás desprovido ou auto aniquila, no caminho, qualquer tipo de sentido de orientação para as necessidades do seu semelhante. Não se pode pedir que um guerreiro no coliseu sobreviva nutrindo sentimentos de compaixão por qualquer pessoa ou bicho que mexa à sua volta.

Entre o poder e o social, os Homens escolheram, nas duas últimas décadas, o conforto do primeiro em detrimento da provação do segundo.

Não existe, por conseguinte, razões suficientes para uma revolta social como as que assistimos no passado. As democracias estão consolidadas, gostamos da Flat Screen TV, compramos por impulso o que, provavelmente, foi fabricado por crianças da idade dos nossos filhos e adormecemos docemente no sofá que ainda estamos a pagar ao Banco.

Paradoxalmente o nosso acesso à informação é universal. Nunca tantos tiveram acesso a tanta informação. Informação, no entanto, não está na esfera dos saberes e do conhecimento. Estão a uma distância cósmica.

Em resumo, as mudanças profundas ocorrem quando estamos muito pobres ou muito ricos. Na pobreza sobreleva-se o instinto de sobrevivência onde o único objectivo é saciar a fome. Na riqueza este uma fome mais nefasta mas nem por isso menor, a fome de mais poder.

Considerando que o mundo ocidental nos deu o equilíbrio entre o poder destas forças, ficámos desleixados, gordos e preguiçosos. Preguiçosos intelectuais.

Podemos até vir para a rua gritar, contestar os políticos e desejar a lapidação do grande capital. Podemos acampar e fazer um idílico Brain Storm sobre consciências, calores de mudança e novas tendências. Mas não podemos levar o IPAD para ver se vai chover ou onde é o restaurante Vegan mais próximo. Não se pode ter o melhor de todos os mundos, porque escolhemos a dormência do material, o conforto do imediato e a indigestão da informação consumida sem critério.

 
Não sou futurologista, mas julgo que assim que a crise mundial passar voltaremos à suave domesticação. Se a crise não passar, não serão com cravos e abraços e acordos de não agressão. Se a crise se agravar temo que façamos um retrocesso dramático e violento. Não para as flores dos anos 60 ou dos cravos de 74 mas para outros quaisquer 3 F´s que foram a batuta Portuguesa por mais de 4 décadas. E, chegado esse dia, não haverá IPAD que nos valha.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

Um Guarda-Redes na Politica

Portugal irá mudar. Essa é uma previsão com alto grau de certeza. Todas as outras, incluindo este ensaio, são meros exercícios mentais.


Em termos políticos estamos entre a areia segura e um mar agitado. Estamos com os pés na rebentação. E os próximos meses, que por mero acaso alinham com a época estival, serão determinantes para perceber se decidimos apanhar sol ou nos lançamos ao mar.

Deixando cair as metáforas para ascender à análise crua e dura do cenário das eleições legislativas.

Como sempre, e não podia ser de outra forma, está tudo nas mãos do Grande Eleitor.

No centro da Batalha estão Sócrates e Pedro Passos Coelho.

Sócrates parece preparado para tudo, considerando todas provações que tem passado, seja por culpa própria ou alheia á sua vontade. Tem “pecado” politicamente por ser um líder desafiante das corporações, reformador e destemido na acção. Errou ao não entender que, em democracia, não se afrontam poderes instalados com avaliações de desempenho. Ou bem que é á força ou então não é. Mas viver em democracia, nestas matérias de “direitos adquiridos”, é como estar de grilhetas. Portugueses todos iguais nos seus direitos e deveres, do Pedreiro ao Professor? Era o que mais faltava.




Pedro Passos Coelho tem sido acusado de ter falta de experiencia ou de Curriculum (Manuela Ferreira leite dixit) para ser Primeiro-Ministro. Pessoalmente discordo. Foi líder da JSD e foi deputado. Para os padrões de exigência dos Partidos Politicos, actualmente, tem perfil bastante. Trabalhou sob as orientações de Ângelo Correia, deu albergue e óleo de polir a Fernando Nobre, confiou as estratégia Financeira a Catroga e logo o extraditou para o Brasil, tem em Alberto João jardim a referência dos valores políticos e acredita que vender a Caixa Geral de Depósitos é a genialidade económica que mais brilhará desde a morte de Alves dos Reis.

Francisco Louçã já não está na puberdade política. A convivência com o poder criou-lhe uma catarse pessoal que pode ser fatal para o Bloco de Esquerda. O BE ficou preso entre o glamour de poder, coligar-se ou não ao PS, e o apego às causas dogmáticas. Está numa encruzilhada. Como a geração de 60, que se rebelou contras todos os valores dos pais, hesita em abraçar ainda com mais pujança o projecto que sempre renegou. Tornou-se neoliberal e capitalista. O erro crasso de estar no meio sem decidir vai provocar uma erosão brutal da massa crítica que se revia nos princípios fundadores.

Jerónimo de Sousa e a CDU, porque aqui não existem veleidades para protagonismos pessoais, vai continuar onde sempre tem estado desde 1974. Estáticos mas coerentes, os Comunistas serão fiéis a eles próprios. Combateram a reacção e têm hoje por missão combater…a reacção.






Paulo Portas poderá vir a ter um papel fundamental no futuro político de Portugal. Maduro, comunicador, e com uma bateria de Sound Bites preparada para qualquer ocasião, tem trilhado com persistência a aproximação do povo às elites do CDS ou, se quisermos, do Partido Popular. PP não é um nome ao acaso. A paródia do Paulinho das Feiras está a colher frutos. O mundo actual percebe que já não se combate o fantasma do grande capitalismo. Pela razão cristalina de que todos abraçámos o grande capitalismo e o grande consumo. Gostamos de sofá, de comprar coisas inúteis e de ter as mãos sem calos. O que valorizamos é o conforto e a igualdade no acesso aos bens de consumo. Porta percebeu isso e tem um discurso de esquerda actualizado aos tempos modernos. Numa entrevista recente cedeu à vaidade e admitiu o desejo de ser primeiro-ministro. Não explicou de que forma mas é fácil entender.

Em caso de empate entre PS e PSD pode-se entrar num limbo politico com inspiração Belga, ou seja, não ser possível formar governo por falta de entendimento sobre quem assumirá o papel de primeiro-ministro. Sócrates, adivinha-se, não irá ceder. Passos Coelhos persegue um sonho de criança e com demasiadas promessas internas já assinaladas. O PCP é o PCP e padecerá do autismo típico da Coreia do Norte. O Bloco de Esquerda, esvaziado da identidade de outros tempos, preso entre o que quer ser e o que representa para os seus eleitores, não terá capacidade nem legitimidade negocial. Corre o risco de uma erosão como aconteceu ao PRD de Hermínio Martinho.

O Grande Eleitor, que está dentro de cada um de nós, terá de decidir entre um governo de Maioria Absoluta e um empate, seguido de prolongamento, com dolorosos e imprevisíveis penalties, onde o herói e salvador poderá ser um imprevisível guarda-redes de nome Portas. Em Espanha chamam “Porteros” aos guarda-redes.