quarta-feira, 24 de novembro de 2010

SOMOS ISSO E MUITO MAIS...PÁ!


Começaram por ser vozes dispersas como pequenas acendalhas, abafadas e espezinhadas por uma multidão de optimismo. Há uns anos, aqui e ali, surgiam saudosistas a evocar Salazar. A multidão, essa, marchava impávida e desatenta rumo a uma terra prometida de sonhos e ilusões. Liberdade, Igualdade e Fraternidade diriam os Franceses. Carros, Casas e férias nas Caraíbas pensaram os Portugueses. Salazar? O povo é sereno, era apenas fumaça.

Hoje, de ouvidos preocupados, percebo que existe, de facto, não só fumaça, mas um foco de um qualquer fogo que pode estar para vir. Sou envolvido num negrume maior quando absorvo a transversalidade desta evocação. Portugueses de todas as classes, idades, ideologias, crenças ou em total descrença e aparente alienação vão-se multiplicando em apelos a um ente que “ponha mão de ferro nisto”. “Só lá vamos à cachaporra”, “ O Salazar é que devia cá estar” são frases vociferadas, meio a sério, meio a brincar, por cada vez mais portugueses. Preocupa-me a parte do meio a sério.



Acredito, no entanto, com excepção dos crónicos, que essa evocação é apenas um grito de desespero e que ninguém, tenha ou não vivido a 2ª República, anseie pelo regresso do presidente do conselho. Acredito, na mesma proporção, que o grito de revolta é genuíno e pasmo a minha própria alma na cedência virginal que concedo a Alberto João Jardim pela sua homilia à 4ª Republica. Não é que alguma coisa tenha de mudar, é que tudo tem mesmo que mudar.



Amanhã, dia 24 de Novembro de 2010, uma greve geral irá paralisar o Pais. A sua utilidade rima com nulidade. Sou acérrimo defensor do direito à greve mas já estamos paralisados há anos a mais. Percebo, com mágoa, que esta greve nada vai acrescentar e nada vai produzir para além da promoção das mesmas serôdias figuras que encabeçam os principais sindicatos e os mesmos actores dos diferentes partidos num reinado, alguns, quase tão prolongado cronologicamente como o do presidente do conselho. Até na forma e conteúdo deste tipo de greves estamos 20 anos atrasados.



Freitas do Amaral escreveu, sabiamente como é seu uso costume, sobre as 5 crises que atingem o País e o mundo.



Ted Sorensen, falecido no passado dia 31 de Outubro, mentor e executor dos discursos de J.F. Kennedy, escreveu para a tomada de posse do presidente dos EUA, fará 50 anos em Janeiro de 1961, o apelo “Não perguntem o que o País pode fazer por vós, perguntem o que podem vocês fazer pelo País”.



As crises têm a virtuosidade de serem um crivo onde, inevitavelmente, o joio cairá desamparado. O trigo, esse, germinará com mais força que nunca. E os Portugueses são trigo, e trigo da melhor selecção mas que tem sido esmagado por um joio secular. È tempo de darmos valor a nós próprios, de encher o peito de orgulho nas suadas de um pai que entrega o pão do dia a seu filho, de uma mãe que quebrou as barreiras do Patriarcado Social com a conquista do seu sonho profissional realizado, de um irmão que leva o nosso mais precioso produto exportável, a inteligência, a todos os cantos do mundo.

 
È o tempo de acreditar que somos muito melhores do que aquilo que alguns, por não o serem, nos têm feito acreditar. A essa acção já se chamou propaganda.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Crónica de uma Caderneta

Meus desconhecidos amigos. Estranha frase de abertura. Desconhecidos porque nunca vos tinha visto mais gordos (por acaso o Markl é bem mais elegante do que eu imaginava e o Palmeirim bem mais alto que a mítica imagem que explicitamente criaram na minha mente. Sacanas!). Amigos, porque a “Caderneta de Cromos” nos transporta para um delicioso lugar-comum da nossa pré-existência.

Tenhamos crescido em Alpiarça ou em Benfica, hoje, com a “Caderneta de Cromos” sentimos o conforto de nunca termos estado sozinhos nesse calvário da adolescência. Pena ser apenas hoje porque as galhetas nas fuças já ninguém nos tira. Não tem mal. A dramatização do Markl a apanhar tabefes e a fazer o transporte dessas experiências para algo de sucesso fez-me, também, sentir um John Rambo a atafulhar de pólvora um buraco na barriga, acender um fósforo e, depois de um esgar de dor, estar pronto para voltar….para o pátio de escola. Cria-se, através do humor (a mais inteligente e sensível das Artes), a marca indelével de uma geração.

Não vos deve ser alheio o desejo, tal foi a peregrina atitude de levar um programa de Rádio a um Coliseu pelas costuras, de perceber o que os sobreviventes da plateia, lugares de visibilidade reduzida e Piolho, sentiram e pensaram. Não estarei com subserviências do elogio cliché. Vocês sabem bem que correu muito bem.

Dar-vos-ei o espectáculo segundo o figurante.

Quatro “Rock-Stars” que se sentaram numa mesa para falar com os amigos. Sem pretensiosismo, despiram-se da rigidez das regras do showbiz e vestiram a pele dos figurantes. Sentamo-nos, então, todos à mesma mesa. Primeiro impacto. Já todos à mesma mesa fomos partilhando infâncias, memórias, imaginários com mais e menos intensidade. Porque se em Lisboa havia muitos “Playmobis” na província lavravam-se árvores de Grampos (que os nossos pais traziam do trabalho para encetar essa arte hoje conhecida como bricolage – nome francês tão amaricado como tantos outros, com a honrosa excepção do menage-â-trois).

Segunda vaga. Os mitos vivos. Júlio Isidro, a quem também atribuo essa espantosa metamorfose de ter passado de um homem a preto e branco a um ser de estroboscópio a cores, que nunca tinha visto ao vivo, iluminou a sala. Curiosa sensação esotérica de sentir uma aura tão potente de energia positiva à volta de uma só pessoa. As vénias que, especialmente o Pedro Ribeiro, lhe fizeram, passaram rapidamente de um suposto acto teatral a essência real de quem, acto reflexo, faz o que lhe vai na alma. Por falar em Pedro Ribeiro, e como eu o compreendo, acho que não vamos poder fazer isso ao Jesus este ano.

José Cid. Incontornável conterrâneo Ribatejano, trouxe-me a magia que sentimos quando, ao crescermos, passamos a admirar o Génio de alguém que julgávamos, na nossa “parvalescência”, obtuso e pouco “Cool”. Quem lhe conhece as virtudes sabe que, comparado com ele, pouco “Cool” é a arca Frigorifica.

Cai o Pano ou outra coisa.

Os gelados Fizz, grátis como quando roubávamos o Sr. Alfredo da Mercearia, foram um dos momentos. Certo que prejudicaram os merecidos aplausos ao Cid (excepto para quem pôs aquilo tudo na boca e ficou com a língua roxa). È que nós, os figurantes, queríamos aplaudir o artista entusiasticamente e acabámos distraídos a pedir desculpa pelos pedaços de Fizz que, com as palmas, estavam a aterrar nas pestanas dos vizinhos. È que nem todos os figurantes eram da turma dos cromos e ainda se ameaçaram uns tabefes à moda antiga.

Passado isso, saímos a sorrir com o pau na boca (cuidar esta passagem que é Mariana e imaculada) e com o calor de saber que pertencemos a uma grande e feliz família amish.

Estão reunidas, por mais macabro que pareça, as condições para criar um Partido Politico para governar o País

Em síntese, seja no Chucky Egg ou na Trampa de Pais dos nossos dias, vencem sempre os Cromos. A diferença é que uns são bons cromos e outros nem por isso.



A sério, a sério, parabéns, bem-haja e muito obrigado.

sábado, 6 de novembro de 2010

Pensa, Estupido

Estou a pensar que preciso deixar de pensar tanto. o excesso de pensamento ou nos torna genios ou estupidos. No meu caso o resultado e obvio.


Autor conhecido de mim, eu.




terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cavadores ao Poder



Entre os políticos e as outras pessoas sempre houve uma fenda separatista. A política sempre teve o seu cordão umbilical ligado a um elitismo de castas sociais.


Iremos por partes. Para alguém menos atento, a política não partilhou o berçário da democracia. Foi, antes, vê-la nascer como um dono que ajuda a parir mais um burro de carga onde se irá montar depois de tantos outros burros mortos de cansaço. Tinham morrido ou prestes a serem abatidos, entre tantos outros, os sistemas imperiais, os eclesiásticos, os monárquicos e os ditatoriais. Mortos uns, nados outros. Tão simples como a vida em si.

Mas a política é tão eterna quanto a existência humana porque com ela partilha uma essência que é transversal a ambos, o poder. E o poder, afrodisíaco ancestral, atrai homens e mulheres que, ao se entregarem às regras do jogo do momento, se tornam políticos. E tem sido a preservação deste “bem”, o poder bem entendido, o causador de guerras, disputas, causas fracturantes, doutrinas, revoluções e convulsões.

As intestinas disputas pelo poder tiveram, no entanto, um factor comum. Os que tiveram acesso a esse poder e os outros. De facto, não luta pelo poder ou o detém quem quer, mas quem pode (a própria palavra dá corpo ao argumento). E quem sempre pôde foi quem sempre teve acesso ao conhecimento e à informação antes dos demais.

Foi assim com Reis (veja-se como a informação antecipada nos favoreceu no Tratado de Tordesilhas), com os Eclesiásticos que criaram o Confessionário para terem informação privilegiada e controlarem as comunidades até aos dias de Salazar que criou a PIDE que, muito mais que reprimir, tinha como missão recolher informação.

Emprenhou-se a mente humana de dogmas e doutrinas a iluminar a justiça social e a revestir a igualdade entre todos de uma aura inigualável na Historia do Homem e deu-se à luz a Democracia. Mas a natureza humana é incontornável. Cedo se definiram esquemas para que o efeito fosse o inverso. Como impedir, então, que o Homem comum tivesse acesso ao Poder e às elites e vice-versa?

Lembro-me do meu avô me contar que os Mestres de profissões trabalhavam de costas para os aprendizes para que estes não aprendessem. Curiosa relação. Mas não estranha. Quando mais cedo tivessem aquela informação, aquele saber da profissão, mais cedo os Mestres correriam o perigo de deixarem de ser…Mestres.

Na política fez-se e faz-se o mesmo. Separa-se o povo inculto dos brilhantes académicos criando uma fenda separatista que tem implícita a segregação entre capazes e incapazes. Entre os dirigentes e os outros.

Hoje, no entanto, o acesso à informação é brutal e o contágio de uma simples mensagem no Facebook pode correr mundo e inverter, em meia dúzia de horas, um dogma ou uma corrente de pensamento. Vão caindo mitos e as causas sociais que criaram as esquerdas e as direitas só já têm sentido no cofre-forte dos Partidos Políticos Tradicionais.

Os Partidos através dos seus dirigentes, sem sustentação nas causas do passado, lidam com uma realidade diferente e terão, a bem da sua própria sobrevivência de se reinventar. Já não servem apenas os títulos académicos, os berços familiares e os berços comprados.

A proliferação de movimentos, lista de independentes, grupos de pensadores e até o agonizante sinal de uma abstenção galopante já deveriam ter sido sinais de alarme de sobra para uma convergência com a sociedade actual.

Porque, em resumo, de nada serve um general sem tropas e os líderes do futuro (amanhã já será tarde) serão aqueles que se mostrem capazes de um senso social e de aproximação emocional com a comunidade, que a compreendam genuinamente para que a sintam. Só assim terão as competências para a representar, independentemente de serem doutores ou cavadores.

A estes homens será, não dado como até hoje, mas reconhecido o poder.