Marinho Pinto, bastonário da Ordem está na TV, outra vez. Debate, sozinho, contra todos, visíveis e por vislumbrar, numa parábola perfeita sobre os interesses de uma Ordem. È dos Advogados, neste caso. Mas podia ser qualquer outra, até mesmo religiosa, não teria importância.
A sua luta, que me traz à memória a vanglória do cavaleiro que investia contra Moinhos espanhóis, é um marco. Não pelo que se discute, nem tão pouco pelos interesses de classe que pouco afectam o País. A marca que ferra a quente, é a reforma involuntária que este homem, mesmo que de forma inconsciente, aos tiques reverenciais tão próprios dos Portugueses entre si, numa ridícula insistência submissa de uns aos outros pelas posições Sociais. Tem 800 anos esta historia.
Rogério Alves, seu antecessor, hábil na retórica, posiciona-se com um pé em cada barricada. Defende o Romantismo da Classe e o timbre endeusado que deve ter um Bastonário em contraponto à rudeza de quem o sucedeu. Configura-se como senador e acena num aviso à navegação. “Cuidado Marinho que nos cai a mascara e ainda se fica a saber que somos homens como os demais”. São ambos visionários. O que sobra de diplomacia e caldos de galinha ao primeiro, escasseia em polidez e pedra-pomes ao segundo.
Um genuíno amigo que tenho disse-me algo que norteia os sistemas. È como se fosse uma viagem. Inicia-se com uma ideia e objectiva-se que termine com a sua concretização. Os sistemas não se mudam partindo do lado de fora para alterar o que lá está dentro. Conquistam-se por dentro e reformam-se depois para fora. O problema reside no facto de, quando no poder, se estar demasiado comprometido e formatado para reformar o que se sonhou quando se iniciou essa viagem.
O pioneirismo de Marinho Pinto, não obstante eventuais interesses próprios, está no ponto de ter conquistado o poder, de forma aparentemente impoluta, e de ter seguido, dessa forma, um caminho demolidor de reforma, tendo conquistado o sonho da sua viagem.
Obviamente não estamos preparados para isto. Vai cair no esquecimento, para um dia mais tarde ser recordado. Mas deixa a sua marca indelével.
A marca de quem, mesmo que consideremos errada e errónea, ousou fazer o que prometeu, com o estilo com que sempre se apresentou, atolando quem pensou que a professa ousadia seria diluída pela agua reconfortante do poder.
Não foi. Pensemos antes de nos submetermos.
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