25 do 4
Não me obriguem a viver para rua
brindar
Começo por desmitificar. Sou democrata,
muito obrigado a todos os que lutaram pelo 25 de Abril e permitiram aos
Portugueses viver neste regime em oposição a outro pior. Obrigado, também, aos
que fingiram lutar, aos desertores, exilados e outros que vieram erguer a taça
depois de estarem debaixo dos cobertores, nos dias quentes de Abril, á espera
que a “fumaça” encontrasse o seu lugar para assentar. Sem dramas. Somos todos
da tribo Portugal, e uma tribo é feita disto mesmo, pluralismo. A democracia,
também. Não vale vir dizer que este se empenhou mais que aquele. È uma luta tão
inútil como bafienta.
A vida das sociedades, inserida ou
não num sistema democrático, é construída pelas posições políticas dos Homens.
E por posição política entenda-se cada posição critica que, cada um, como
individuo, toma. Nem que seja para escolher os cortinados lá de casa. Nesse
sentido, um, diluído numa organização ou de forma solitária, traças as linhas
que vincam a personalidade da sua geração.
A minha geração, que alguns de Abril,
marcaram a ferro quente como “RASCA”, amarguram em teorias esotéricas para
tentar justificar o afastamento e indiferença visíveis dos seus infantes
perante a Abrilada.
Mais Rascas são, os fedelhos.
Concedo. Assim como concedo que o meu filho me diga que não pediu para nascer,
eu também não pedi nenhum Abril, ou outro mês qualquer.
Podemos pedir o que quisermos mas, no
final do dia, teremos aquilo que nos derem. E se nos deram a Democracia, não
foram imunes em dar-nos a sede de protagonismo em comemorações repetitivas,
enfadonhas, a preto e branco com personagens e personalidades em bicos de pés.
Pelo menos, uma vez por ano, porque
os bicos dos pés provocam dor, tenta-se recuperar um dia de 1974, ser noticia e
dizer. “Fui eu. Fui eu que te dei isto. Estás em divida eterna para comigo. E
vou-te cobrar até que a falta de vida nos separe”
Quando nos elevamos, por mais nobre
que seja o nosso feito, como é o caso, devemos puxar dos galões da humildade,
envolver todas as gerações num abraço fraterno, arrumando o revivalismo numa
gaveta da Historia. Veja-se o 4 de Julho nos Estados Unidos e a forma como
todas as gerações são abraçadas.
Não me obriguem, então, a vir para a
rua fingir o que não vivi. Estava na barriga da minha mãe. Não me obriguem a
vir para rua brindar, convidem-me como igual e, nesse dia, serei um verdadeiro
filho de Abril, sem dívidas morais. Porque,
isso sim, é a Liberdade.